Beethoven: um gênio incansável
Como definir Ludwig Van Beethoven? Muitos diriam: gênio!Eu digo: uma súplica da fragilidde humana no mistério divino, Beethoven foi um jovem adulto agonizante entre a ficção e a realidade.Conhecer Beethoven e sua música não basta para entender tamanha genialidade. Seu questionamento constante sobre a meta certeira de toda a humanidade é quase um pedido de auto-misericórdia, mas por que isso? Porque no sacrifício de descanso de sua voz na música, este ousou, com leveza e agilidade, subliminar uma critica sarcástica aos valores e costumes da sua época?
Goethe, outro gênio, este alemão disse certa vez: ”Jamais conheci um artista mais contido, vigoroso e sincero. Posso compreender muito bem quão singular deve ser sua atitude para com o mundo” sobre Beethoven. Pensemos então, a coisa que mais chama a atenção em Beethoven não é sua genialidade, sua música e sua compreensão de mundo, mas sim sua sinceridade e grandeza para com os sentidos.
“A admiração, o amor e a estima, que já acalentava em minha juventude pelo único e imortal Beethoven, ainda persistem. Sentimentos como esses não são expressos facilmente em palavras, particularmente por alguém inculto como eu, pois meu único desejo tem sido dominar a arte da compreensão. Mas um sentimento estranho está me induzindo a dizer tudo isso sobre este, que foi com toda certeza, um dos maiores gênios que o mundo já teve.”
O que eu penso de Beethoven, talvez pouco importe a você leitor, mas à época que viveu Beethoven, a ligação que se vê a partir de sua música é que, passando sequencialmente por Wagner e Nietzsche, fizeram-se umas das eras mais magníficas da história humana. E esta é feita, inconscientemente ou não, com o que há de mais emocionante e especial nas pessoas: a paixão.
É inegável também, no pensamento, a influência da filosofia na música. Esta que praticamente fundou sozinha a modernidade, justamente responsabilizando a música e seus artistas emplasmados eternamente na memória das pessoas. No germanismo pré-hitleriano que viveu Beethoven se faz o contexto que ele tornou o ideal para que sua música fluísse.
Tão impressionante quanto o caráter “germânico” e a incomparável arte (e força) de Beethoven, contudo, foi sua capacidade – não apenas de artista, mas de profeta clarividente – de forjar o futuro e de condenar a música posterior (até hoje) aos moldes por ele lançados. O “futuro”, aqui, apontava o caminho que Beethoven supostamente indicava a seus sucessores. Do mesmo jeito, a música programática é “filha” de Beethoven. Se estamos aprisionados no tempo da incompreensão da música contemporânea, pelo menos desde o século anterior, é, de certa maneira, por causa de Beethoven. Se, em termos eruditos, não conseguimos mais encontrar saída que não seja a dissonância é por ‘culpa’ de Beethoven. Beethoven inventou o humano muito mais humano do que Shakespeare e, de lá pra cá, o que nos diz respeito à visão de mundo das pessoas mudou radicalmente.
Por isso, apesar do germanismo ser hoje inadmissível (e estar fora de moda), graças à obra incomparável, ao exemplo de vida (e determinação) do futuro (ao menos, na música), continuemos louvando Beethoven. E continuaremos por muitos anos. Arrisco: até o fim dos tempos (embora essa expressão não tenha sentido, como provou Kant). Beethoven, quando não é fonte inesgotável de inspiração, em suas sinfonias, suas sonatas, seus quartetos, etc., é um porto seguro para quem quer desenvolver seus talentos, superando-se sempre. Beethoven, quando não é, digamos, um guia para o trato social e para, vá lá, a convivência em família, é um caso, no mínimo, interessante de sobrevivência a si mesmo, às próprias debilidades, psicológicas, orgânicas, humanas, enfim. E Beethoven, quando não é comparável a “gente como a gente”, graças a seu gênio, revela-se, ao mesmo tempo, extremamente palpável, pelas anotações, pelos cadernos, pelas cartas, pelos autógrafos – de um ser humano sempre cindido entre uma tarefa hercúlea, que se sabia capaz de realizar, e uma época comezinha, como todas, mas que lhe permitiu abrir asas e voar. Por isso, estamos salvos (ou temos onde nos resguardar).
Por isso lembre-se: Beethoven consegue vislumbrar dentro de seu delírio agonizante como seria sua vida definitiva. É como se ouvisse um coro de anjos à sua volta para o receber; então surge como um último apelo de salvação eterna.Sua música é melancólica, é a lagrima que Beethoven tem para oferecer como forma de arrependimento: “Perdoai-me,Deus meu piedoso Senhor Jesus, dai-me o descanso eterno.Amém” disse outrora.
“Há alguns homens misteriosos que só podem ser grandes. E por quê? Nem eles mesmos sabem. Por acaso quem os enviou sabe disso? Têm na pupila uma visão terrível que nunca os abandona. Viram o oceano como Homero, o Cáucaso como Ésquilo, Roma como Juvenal, o inferno como Dante, o paraíso como Milton, o homem como Shakespeare. Ébrios de sonho e intuição em sua marcha quase inconsciente sobre as águas do abismo, atravessaram o raio estranho do ideal, e este os penetrou para sempre... Um pálido sudário de luz cobre-lhes o rosto. A alma lhes sai pelos poros. Que alma? Deus.” – Ludwig Van Beethoven
Ygor Coutinho Antunes