quarta-feira, abril 23, 2008

Quanto você pagaria para ser eleito?


Quanto você pagaria para ser eleito?

Marcelo Araújo

Buscarei apresentar alguns dados sobre as eleições municipais de 2004 na cidade de Patos de Minas. Para quem não conhece, Patos, como é vulgarmente chamada, localiza-se na região do Alto Paranaíba, é uma típica cidade do interior de Minas Gerais com população de aproximadamente 130 mil habitantes. Na última eleição municipal foram eleitos 11 vereadores e a disputa para prefeito se concentrou, principalmente, em torno de dois candidatos, Antônio do Valle Ramos do Partido Progressista e José Humberto Soares do Partido Trabalhista Brasileiro.

Naquela ocasião, o vencedor da disputa foi Antônio do Valle com quatorze mil votos a frente do segundo colocado. Até então, quase nada nos chama atenção, mas uma análise além dos resultados das urnas revela dados surpreendentes. Antônio do Valle sagrou-se também campeão em arrecadação de recursos. Para sua eleição em outubro de 2004 o candidato obteve uma receita de exatos R$ 369.610,00. Por outro lado, o candidato José Humberto obteve a bagatela de R$ 136.200,00, o que implica uma diferença de nada menos que R$ 232.410,00 entre o orçamento dos dois candidatos. Somado a estes valores o humilde orçamento de Pastor Augusto (R$ 2.240,00), o candidato que complementou a disputa na cidade, percebemos que a disputa eleitoral naquele ano movimentou nada menos que R$ 508.050,00, ou seja, mais de meio milhão de reais circularam na pacata cidade em função da briga pelo poder.

O candidato vencedor conseguiu 53 doadores para sua campanha, doadores estes que ofertaram valores entre R$ 500 e R$ 30.000. Apesar da grande quantidade de doadores do prefeito progressista, o maior valor vindo de um único indivíduo teve como destino a campanha de seu concorrente. Um dos 19 financiadores da campanha de José Humberto doou sozinho R$ 33.000.

Até o presente momento apenas transmiti algumas informações para o leitor. Antes de prosseguir meu texto faço algumas perguntas provocativas: Um candidato eleito gastando cifras tão altas, partindo de cinqüenta e três diferentes pessoas ou empresas, governa para quem? Governa, com independência, para todos os seus 43.925 eleitores?

Vamos novamente brincar um pouco com os números. Dividindo a quantia arrecada pelo número de voto obtidos percebemos que o candidato Antônio do Valle gastou cerca de R$ 8,41 por voto. Fazendo os mesmo cálculos notamos que José Humberto gastou R$ 4,58 por voto. Se mantivéssemos este valor por voto seria necessário que José Humberto gastasse, no mínimo, R$ 65.109, 00 para se sagrar o vencedor das eleições.

Falemos um pouco dos financiadores de campanha dos dois candidatos. O empresário patense Inácio Carlos Urban mostrou que sabe usar bem do maravilhoso jeitinho brasileiro, prestou apoio no valor de R$ 5.000 para os dois candidatos da disputa eleitoral. Como se não bastasse, financiou com valores diferentes os dois principais candidatos das cidades de Presidente Olegário e Coromandel. Apenas o empresário gastou R$ 20.500 no financiamento de seis diferentes candidatos a prefeito da região. Parece que Inácio Urban não terá problemas nascidos de intrigas políticas em seus negócios.

É claro que apoio financeiro prestado aos candidatos varia de acordo com dimensão da empresa, de seu poderio econômico e de seus interesses na região. Veja bem, a Algar S/A Empreendimentos e Participações que atua na cidade por meio da conhecida CTBC, destinou R$ 4.000 para cada candidato de Patos de Minas, porém, destinou remessas de seus lucros para nada menos que outros 29 candidatos a prefeitos de sete diferentes cidades pertencentes a três estados da federação. A maior cifra foi destinada ao candidato eleito prefeito de Uberlândia, Odelmo Leão, que conseguiu o apoio no valor de R$ 321.000,00. Desconfio que a Algar, desde 2004, encontrou um bom espaço para crescer na região, ganhou alguns incentivos das prefeituras para ampliar seus serviços nas cidades e, se isto realmente ocorreu, podemos esperar que este ano ela financie um maior número de candidatos.

Voltando o foco novamente para Patos de Minas e tentando buscar um segundo exemplo para ilustrar as relações clientelistas existentes nas eleições municipais por este Brasil afora apresento o caso da Papelaria Principal. Esta famosa papelaria da cidade patense direcionou R$ 10.000 para a campanha de Antônio do Valle. Quais os interesses de uma papelaria ao gastar esse montante em uma campanha eleitoral? Todo o material de escritório usado pela administração municipal durante os quatro anos já parece ter tido um fornecedor garantido.

Alerto para importância de o leitor diferenciar hipóteses feitas por mim de afirmações e informações presentes no texto.

Insisto em deixar claro que não faço uma crítica aos candidatos e seus esquemas montados de arrecadação de recursos para campanha eleitoral. Apenas duvido que alguém invista valores tão expressivos por simplesmente acreditar na qualidade de determinado candidato. Procuro apresentar aqui, o tempo todo, a minha singela desconfiança em torno de como a política pode se preservar imune diante da dependência que ela está criando em relação aos seus financiadores. A cada nova eleição ela reforça sua dependência e os resultados das urnas passam a estar, cada vez mais, ligados a ela.

Estas simples comparações e exposições revelam um pouco do que pode estar por trás de uma simples disputa eleitoral. Preocupei-me o tempo todo em mostrar que estava falando apenas a respeito da cidade de Patos de Minas e expus um pouco sua realidade para que qualquer leitor pudesse tentar imaginar o que se passa em eleições de maior porte como as eleições de Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do país, ou as eleições de maior porte como aquelas que elegem os integrantes do congresso nacional. Quanto, financiadores estariam dispostos a pagar para ter o presidente da república ao seu lado? Quanto, uma empreiteira colocaria de recursos na campanha de um candidato a deputado federal em troca de o mesmo redigir leis que a beneficiem? A preocupação de cada indivíduo integrante de qualquer poder em questão é mesmo as demandas da população? Seria o bem comum, atualmente, o fim único da política?

Questões que me deixam bastante preocupado a seis meses das eleições municipais. Perguntas que me fiz nas eleições de 2004 e 2006 e que provavelmente continuarei fazendo nos próximos anos. Seria realmente o candidato às eleições norte-americanas capaz de fazer uma campanha vitoriosa sem arrecadar recursos vindos de empresas e organizações?


A política revela algumas armadilhas, o poder mostra-se um bem caro de ser adquirido e, o mais triste ao focarmos nossas visões em tão graves questões, é perceber que, se elas se mostram tão complexas para serem resolvidas, a população está cada vez menos interessada em descobri-las, mais distante de percebê-las e até mesmo de ter interesse em envolver-se nelas.
Um bom ano eleitoral para todos vocês! Se deliciem com todo esse espetáculo e, por favor, não fiquem sentados, como estão, esperando soluções e, muito menos, olhem a realidade e os absurdos que acontecem em suas frentes e simplesmente proclamem antes da novela “É por isso que esse país não vai pra frente!”.

Fonte: Transparência Brasil (www.transparenciabrasil.org.br)

segunda-feira, abril 14, 2008

A Igreja do Eu Sozinho

Olá enfermeira!

Venho humildemente colocar, como diria nosso ídolo, Roger Waters, outro tijolo na parede.

Abaixo cito a professora do IFCS Elisa Pereira Reis, em seu texto "Reflexões sobre o Homo Sociologicus". O texto em si é bastante esclarecedor para aqueles que se debruçam sobre as questões metodológicas das Ciências Sociais. Mas o trecho que vos trago, na verdade, trata de um tema sobre o qual já discorri bastante aqui: individualismo. Lá vai:

"Na perspectiva de Durkheim, a sociedade tem precedência lógica sobre o indivíduo. A própria autopercepção do indivíduo como tal é uma resultante histórica da evolução da sociedade. Para ele, o individualismo corresponderia à religião da sociedade moderna. E a religião, por sua vez, a uma representação sacralizada da própria sociedade."

Ahn sim, esqueci de dizer, é a visão que Durkheim tem da coisa. Sempre tratei do assunto por um viés marxista, falando principalmente de alienação, mas esse ponto de vista que Elisa atribui a Durkheim me chamou muito a atenção.

Quando o li, me lembrei imediatamente do Japão.

É apenas uma opinião minha, formada pela mídia, mas eu vejo o Japão atual como o maior ícone do pós-modernismo. Uma sociedade que nega seus valores ancestrais em velocidade absurda, totalmente "desencaixada", e, o mais importante aqui, sem nenhuma religião expressiva! Tá, existe o Shintoísmo, mas o Shintoísmo está bem longe de ser pro Japão o que é o Islamismo para os Árabes ou o Cristianismo pro ocidente.

Se levarmos em conta a religião como algo que cumpre o papel de garantir a coesão social (segundo Durkheim em "As Formas Elementares da Vida Religiosa" - que, por sinal, eu não li), podemos sim atribuir, mesmo com apenas uma obsevação leviana, boa parte da coesão social moderna ao individualismo.

Pensando cada um em si, os indivíduos racionalizam a vida social de forma a assegurar seus interesses. Porém, como qualquer grau elevado de conflito torna-se muito prejudicial para uma bela maioria deles, garante-se um consenso razoável sobre como se dá a vida coletiva de forma a minimizar as perdas. Isso pensando a coisa de maneira microssociológica. Poderia dar uma explicação coletivista falando de classes e campos sociais, mas como o assunto é individualismo, a primeira me pareceu mais adequada.

E é isso que eu queria compartilhar com vocês. Desculpa aí o texto grande demais, mas concluí que é melhor escrever demais do que não escrever nada.

Obrigado pela atenção!

Tchau!

sexta-feira, abril 11, 2008

GENTLE GIANT - OCTOPUS (1973)

http://sharebee.com/d028e5d7 (link testado)

Nada melhor pra começar do que este clássico do progressivo que dispensa comentários. O que é bom porque me exime de um bocado de trabalho. A banda dos irmãos Shulman tem ainda outros discos excelentes que serão postados aqui, mas este (o terceiro do Giant) na minha opinião mereceu ser o primeiro a ilustrar a parede.
Sem dúvida um disco pra quem gosta de rock progressivo puro e aplicado, o "Octopus" de 1973 já abre com uma faixa excepcional: "The Advent of Panurge" que carrega no lombo as bases do progressivo. O disco segue feroz e surpreendente. Merecem destaque especial as faixas "Knots(4)" e "The Boys in the Band (5)". Espero que curtam esse disco como eu curti e ainda curto.

Os "Gigantes"

Line Up:
Kerry Minnear: teclados, vibrafone, percussão, violoncello, moogs, voz e vocais
Raymond Shulman: baixo, violino, violões, percussão e vocais
Gary Green: guitarras e percussão
Derek Shulman: voz e sax alto
Philip Shulman: sax, trompete, mellophone(eu não sei o que é), voz e vocais
John Weathers: bateria, percussão, xilofone

Faixas:
The Advent of Panurge
Raconteur Troubadour
A Cry for Everyone
Knots
The Boys in the Band
Dog's Life
Think of Me with Kindness
River

quinta-feira, abril 03, 2008

DE VOLTA!!!

Comunico-lhes, amigos leitores e colegas de parede que estou reformulando me espaço na PAREDE.
De agora em diante, publicarei sugestões e comentários sobre diversos álbuns que considero os mais f*das da música contemporânea(1950-2008) e, quem sabe em breve, erudita.
AVISO: pode parecer prepotência de minha parte, mas advirto àqueles que não me conhecem que não sou um sujeito eclético. Sou entretanto, um tanto alheio ao cenário musical moderno (1990-00's). Portanto, é provável que não haja muita coisa atual no meu azulejo(sacaram?).
Quanto aos álbuns, disponibilizarei links (confiáveis) dos blogs onde estão postados, principalmente do blog MÁQUINAS MACIAS do meu grande parceiro Willer Zops. Isso, para divulgar o trabalho desses blogueiros que disponibilizam para todos o melhor da boa música.
É isso.
Por ora deixo-lhes uma mensagem para refletir:
"When a man finds a way, or he can go, or he can stay"
Autor (des)conhecido.

terça-feira, abril 01, 2008

O Supercidadão e as Ciências Sociais

Olá pessoas!

Aproveitando meu recente ímpeto escritor, venho trazer-lhes um lampejo que tive sábado passado.

Assim como todos aqui, concordo que a democracia brasileira carece de participação popular. Como alguns aqui, sei que isso se deve ao processo histórico de formação política da sociedade brasileira, à toda peculiar consolidação de nossa democracia. Logo, sei que a reação normal quando vemos alguem que cumpre devidamente seu papel de cidadão seja a de um reconforto, algo que reavive a esperança.

Mas nem sempre é assim. Tem gente por aí que usa isso para se promover. Pessoas que fazem tudo o que devem fazer no intuito de jogar a culpa nos outros. Afinal, se eles fazem a parte deles, e as coisas ainda estão erradas, é porque os outros não são tão engajados quanto eles. Ou seja, o país está essa porcaria porque as pessoas (os mais intelectualizados preferem dizer "o povo") são individualistas, cada um só pensa em si, etc.

O legal é quando eles começam a falar de corrupção. Me intriga como essas pessoas que se preocupam tanto com o bem-comum e são verdadeiras paladinas da justiça em meio a uma sociedade num processo acelerado de autodestruição fazem tão pouco a respeito da corrupção nas esferas mais elevadas da política (que são os alvos mais comuns da mídia). Me irrita o fato de todas elas tratarem problema tão profundo de maneira tão leviana e taxativa. Como se fosse apenas "separar o joio do trigo".

Na verdade, todo o meu desconforto frente à suposta arrogância desses "Supercidadãos" envolve uma questão maior que diz respeito à desvalorização do estudo das Ciências Sociais (principalmente a Sociologia e a Ciência Política) por se tratar de um objeto que, diferente de outras ciências, não se encontra separado de nossa vida mundana. Pelo contrário, É nossa vida mundana. O sociólogo ou o cientista político não são cientistas que entendem de algo que o homem comum desconhece, estão mais para malucos que acham que podem dizer aos outros como agir.

Isso dá ao cidadão comum a impressão de que esse conhecimento não é uma ciência, mas uma opinião como qualquer outra. Assim como a sua própria. Por isso normalmente não se tem o mesmo cuidado ao debater a corrupção quanto quando se discute se os vírus constituem ou não um sexto reino de seres vivos.

E é isso.

Desculpem se escrevi muito.

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