“ Todo carnaval tem seu “fim” ”
Para mim, o mais cansativo e o que mais se propaga durante os carnavais são aquelas músicas consideradas os hits* desse período de festa. Alguém pode até encontrar um motivo para festejar rindo da trágica comédia que é nossa vida, porém, os dono das gravadoras, os vendedores, os camelôs, os próprios cantores, todos aqueles que faturam alto com a produção dessa rica safra possuem motivos mais concretos pra comemorar bastante.
Essas músicas e os aclamados “artistas” que as disseminam tem seu sucesso com uma receita bem simples. Basta reunir alguns instrumentos, fazer uma batida animada, inventar uma letra bem simples, ensaiar uma seqüência de passos e colocar na mão de uma figurinha conhecida no chamado cenário pop*.
A duração do sucesso de cada canção está diretamente proporcional ao tempo que ela é tocada nas rádios, que é apresentada nos programas das tardes de domingo e de depois do jornal do almoço ou até do tempo que se leva para a próxima sensação do verão* ser lançada.
Mesmo sendo de simples produção e tendo sucesso garantido, estas músicas não são sempre do mesmo ritmo ou estilo. É importante ilustrar essa afirmação relembrando o carnaval do funk, bonde do tigrão e suas “eguinhas”.
E quais os temas dessas belíssimas canções?
Toda a composição nos mostra alguma dança do aviãozinho, algum amor perdido no verão, ressalta alguma beleza do Brasil ou simplesmente não fala nada. Fica apenas cantando os passos que é a própria dança.
Diante disso, eu não me atreveria a colocar alguma música carnavalesca para que vocês ouvissem enquanto lêem meu texto. Foi uma boa idéia de nosso amigo David mas prefiro não obrigá-los a ouvir essas jóias de natureza bem brasileira.
Eu estaria realmente feliz se acreditasse que essas musicas só existem nessa época, que isso só acontece com as músicas e que as pessoas ouvem algo além disso. Músicas desse tipo existem em qualquer época do ano, no Brasil ou no exterior, tudo acontece em variadas áreas, basta ligar a televisão e você acompanhará programas que são feitos por sete anos consecutivos durante as férias tomando conta de todos os meios de comunicação já citados.
Por mais que eu perca meu tempo escrevendo este texto e você perca o seu lendo-o todas essas coisas de que falei provavelmente não mudarão. O tempo passa, os carnavais sempre chegam, esses enlatados tupiniquins sempre geram um faturamento alto, sempre existirão pessoas de belas faces enganadas o suficiente pra acreditar que é belo o trabalho que fazem, etc.
A consciência dos fatos que descrevi não são suficientes pra suprir a carência que a realidade gerou em nossa gente. Para testemunhar e lamentar só nos resta aguardar o próximo feriado, a próxima estrela pop, a próxima festa regional, o próximo festival de axé, as próximas férias, o próximo verão, o próximo carnaval...
*Tenho nojo dessas expressões.