Há algumas semanas, durante os jogos Pan-americanos, passei por uma situação inusitada. Numa das caminhadas que faço rotineiramente, em determinado momento, encontrei um sujeito com um colete de kevlar segurando um fuzil alemão. A fração de segundo que se passou entre essa visão e a leitura dos dizeres “Polícia Federal” em algum lugar da roupa dele foi assustadora. Nos próximos segundos passei por alguns companheiros de profissão desse primeiro homem, e pelas quatro blazers pretas que os levaram até ali.
Nada de errado até aqui. Mas, o que me chamou a atenção – consequentemente, o motivo que me fez expor tudo isso aqui – foi minha reação a isso. Ao ver que aquele pessoal de fuzil na mão era da Polícia, minha sensação foi, claro, de alívio. “Que bom que são policiais!”, pensei. Não pude impedir a pergunta lógica: por que diabos aquele monte de policiais estava ali?
Estranho como nessas horas as perguntas lógicas não têm respostas lógicas. A verdade é que eu nunca fiquei sabendo se havia realmente um motivo para a presença deles ali (melhor assim, acho). De toda forma, o que eu passei a questionar foi: o fato de eles estarem ali afinal era bom ou ruim?
Eu deveria me sentir tranqüilo por estar sendo protegido pela Polícia – expressão maior do monopólio da violência pelo Estado? Qualquer um que leia jornais sabe que não é bem assim. Afinal, se a violência fosse de fato monopolizada pelo Estado, aqueles homens não teriam fuzis nem kevlar. Ademais, acho extremamente difícil me imaginar seguro cercado por dez desconhecidos armados daquele jeito, sejam quem forem. Deveria eu então me sentir ameaçado por aquelas pessoas? Não creio, afinal, sabe-se que muita gente por aí usa uns fuzis bem parecidos com aqueles pra coisa bem pior. Sei que, apesar do poder de fogo daquele pessoal, nenhum tiro foi disparado ali, ninguém se feriu. Se não fossem policiais, isso certamente teria sido diferente.
Algumas semanas se passaram desde então, e ainda não cheguei a nenhuma conclusão nisso. O fato a ser encarado é que a violência, tanto contra a população como em nome dela, é normal. Por mais que isso me incomode, e com certeza incomoda a muitos outros além de mim, conviveremos com isso até o fim de nossos dias. Não estou dizendo que isso não é um problema, estou dizendo que a violência se arraigou na nossa normalidade. A redução da violência requer a alteração do que é “normal” pra nós. E não se trata de um reles conceito.
Para terminar, uma conclusão até bastante óbvia:
Tenho pena dos que viveram, vivem, ou viverão em guerra...
PS.: Enquanto membro fundador da Parede de Banheiro, parabenizo todos os envolvidos nesse blog por termos completado um ano de atividade. Tudo bem que o aniversário da Parede foi em 26 de Maio, mas isso não vem ao caso. Obrigado Rafael, Leo, Cadu, Marcelo, Davi, Ygor, e a todos os leitores.